Helena da Silva Hughes, diretora do Centro de Assistência ao Imigrante em New Bedford, ao Portuguese Times

O Centro de Assistência ao Imigrante, em New Bedford, fundado em 1971 por um grupo de imigrantes portugueses e luso-americanos, com a finalidade de ajudar os portugueses que na altura chegavam à cidade, hoje sob a direção de Helena Silva Hughes, tem hoje uma ação redimensionada e mais alargada aos imigrantes provenientes de vários países.

Com a eleição de Donald Trump, que prometeu intro­duzir novas e mais rígidas leis da imigração, ameaçando mesmo deportar milhões de imigrantes indocumentados, entre os quais largas centenas de portugueses, o Centro de Assistência ao Imigrante assume agora mais do que nunca um papel esclarecedor para todos esses imigrantes, tanto os não naturalizados como os indocumentados. Nesse sentido, segundo a atual diretora, “chovem” de todos os lados pedidos de auxílio e solicitações para o cum­primento dessa missão. Para muitos destes cidadãos o momento é dramático, face à possibilidade de deportação e consequente separação e até mesmo desintegração de famílias.

“Desde o mês de julho já recebemos 550 chamadas telefónicas de imigrantes, a maioria dos quais portugueses, devidamente documentados a requererem a cidadania norte-americana, quando em situações normais recebia­mos anualmente em média 150 candidaturas neste processo”, começa por nos dizer Helena da Silva Hughes, diretora do Centro de Assistência ao Imigrante, que recorda que o CAI tem incentivado ao longo dos anos, prin­ci­palmente desde 1996, as pessoas a adquirirem a cidadania norte-americana.

This article first appeared in the Portuguese Times on April 14, 2017 – HERE

“A grande razão porque há agora um maior número de candidatos a naturalizarem-se norte-americanos é porque estão receosos que, com a atual situação política e com este novo presidente, as novas diretivas de leis de imi­gração venham a ser mais rígidas, pelo que a melhor defesa é naturalizarem-se cidadãos deste país”, explica Helena Hughes, que passa a esclarecer a situação de jovens que estão a estudar neste país, filhos de imigrantes indocu­mentados e ao abrigo do programa DACA, introduzido pelo anterior presidente Barack Obama.

“O DACA (“Deferred Action for Childhood Arrivals”) foi uma ordem executiva que Obama assinou em 2012 no sentido de proteger esses estudantes evitando assim a sua deportação… Esta ordem executiva é temporária, de dois anos e os estudantes podem requerer três vezes, perfa­zendo um total de seis anos”, explica a diretora do CAI, adiantando que esta ordem aplica-se apenas a estudantes que tenham residência neste país antes de 2007 e ter entre os 15 e 30 anos de idade. Até agora Donald Trump mantém o programa DACA.

“Calcula-se que existem 750 mil estudantes ao abrigo do DACA, mas há o receio de que toda a informação desses estudantes e respetivas famílias no Departamento de Imigração possa ser usada pelo atual presidente para mais facilmente serem identificados os pais e restante família em situação ilegal neste país”, elucida a nossa entrevistada, que tem efetuado sessões de esclarecimento em escolas onde existem alunos nesta situação.

“Fui solicitada pelos liceus e escolas elementares aqui da área para prestar esclarecimentos aos estudantes filhos de imigrantes indocumentados, alguns dos quais portugueses e lusófonos em geral, em sessões conduzidas em inglês, português e espanhol… Constato que alguns estudantes estão preocupados e alguns até em pânico, porque estão receosos de que podem ver os seus familiares deportados ou até mesmo o programa DACA ser eli­minado e eles também serem deportados”, afirma Helena Hughes, que aconselha estes estudantes a evitarem falar em público sobre a sua situação e não se envolverem em distúrbios.

“O que eu constato e que é de lamentar é que há estudantes imigrantes que estão a ser vítimas de assédio (“bullying”), chantagem, etc… Há ainda situações em que os pais não estão a mandar os filhos para a escola, com receio de serem deportados e a nossa missão é esclarecer essas pessoas”, refere Helena Hughes, que alerta ainda para cuidados a ter com oportunistas, nomeadamente advogados que fazem promessas falsas e que não são advogados de imigração para darem início a um processo que não existe.

Nos últimos anos têm-se fixado nos EUA milhares portugueses, grande parte por razões de parentesco imediato, normalmente o casamento. Como Portugal faz parte, desde 1999, do Visa Waiver Program (programa de isenção de vistos para visitas turísticas), tem aumentado ultimamente o número dos “turistas” portugueses que não respeitaram o prazo para deixar o país.

“Há milhares de portugueses indocumentados em Massachusetts e que podem ser deportados a qualquer altura, para não falarmos em outros estados, como Rhode Island, Connecticut e New Jersey, alguns dos quais chegaram aqui como turistas e com um visto de 90 dias acabando por permanecer aqui… Muitos portugueses têm um visto e estão com receio de regressarem a Portugal para requererem novo visto e terem de esperar 10 anos para um regresso aos EUA, uma vez que as autoridades venham a inteirar-se da sua situação real”.

Face a este cenário, a diretora do C.A.I. afirma que a comunidade desta área, atenta ao drama de muitos desses imigrantes e à situação difícil que o centro atravessa, em termos de sustentabilidade financeira, tem sido solidária. “Temos recebido muitos donativos até mesmo de anónimos e é nestas situações que a comunidade deve unir-se”.

Na noite da passada sexta-feira, no New Bedford Whaling Museum, realizou-se a habitual campanha anual de primavera de angariação de fundos e que constou de um cocktail, com razoável afluência de pessoas a corres­ponderem ao apelo desta instituição de serviços sociais e humanos.

Foram angariados cerca de 30 mil dólares para o Centro de Assistência ao Imigrante, com apoios importantes da United HealthCare Senior Care Options e a Harvard Pilgrim Health Care.

Refira-se que o orçamento anual do Centro de Assistência ao Imigrante, fundado há 46 anos, ronda 350 mil dólares.

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Entrevista: Francisco Resendes